Quem ainda gosta do Serra e ignora o Lula?




Não observar o fenômeno "classe média" que tomou conta do país nos útlimos anos é estar de olhos e ouvidos vedados para o que acontece. O "boom" financeiro da nossa classe média chamou a atenção até de grandes potências. Em 2008, o The New York Times publicou artigo em que mostrava a feliz classe média consumista do Brasil crescendo enquanto nos EUA as pessoas dessa mesma classe amargavam o início de uma recessão que se revelaria catastrófica meses mais tarde.


Segue trechos do texto:

"Tradução do longo artigo sobre a prosperidade brasileira, publicada no

jornal New York Times:


Consumidores brasileiros vivem período de prosperidade


Andrew Downie

Em São Paulo


Os consumidores nos Estados Unidos estão apertando o cinto; os

brasileiros estão gastando como se não existisse palavra em português

para recessão. [...]


"No passado, quando os Estados Unidos espirravam, o Brasil pegava uma

pneumonia, mas este não é mais o caso", disse Marcelo Carvalho,

diretor executivo de pesquisa do Morgan Stanley no Brasil.[...]


Uma visita a qualquer shopping center ou revendedora de carros sugere

que é verdade. As lojas estão lotadas de compradores ávidos em gastar.

As vendas de aparelhos domésticos aumentaram 17% do ano passado, a de

celulares aumentou 21% e as vendas de computadores notebook e

televisores de plasma e LCD quase triplicaram. [...]"


Fonte em pdf.


Se alguém aqui tem recordação dos anos 90 (seja tendo vivenciado, ou estudado nos livros), deve lembrar-se que inúmeras e sucessivas crises econômicas acometeram o Brasil nesse período. Isso se dava, entre outros fatores, pelo atrelamento da nossa economia à dos EUA. Logo no início desse governo, Lula empreendeu diversas viagens pelo mundo. Enquanto a mídia descia a lenha no presidente, acusando-o de fazer turismo, Lula pulverizava os produtos brasileiros por muitos países, rompendo assim com nossa dependência colonial com os EUA. Se ainda estivéssemos sob um governo tucano, o ideal do neo-liberalismo teria triunfado e todas as nossas empresas teriam sido entregues às multinacionais estrangeiras. Seria mesmo como na crise de 29: EUA falido, Brasil sem financiador. O que acontece hoje é que vendemos para o mundo todo, e muito. Diversificamos nossas fontes de renda.


O Brasil melhorou. Se jogar uma bomba resolvesse os problemas (como alegam alguns conhecidos meus), todos os países massacrados por uma guerra ressurgiriam no pós-guerra melhores, revitalizados, desenvolvidos. Com exceção da Alemanha Ocidental e do Japão (que tiveram toneladas de capital injetadas na sua recuperação pós- 1945 por motivos geo-políticos), bombas não ajudam a salvar ninguém. Temos que encarar os fatos: o Brasil tem sim muitos problemas - históricos e culturais, o que só dificulta na solução -, mas é com essa matéria que temos que trabalhar. Lula não é um paladino, depositário de toda moral e virtude, mas é uma resposta em grande estilo à política oligárquica que sempre dominou esse país.


E sobre a Dilma... bem, ela não é lá muito simpática e atribuem a popularidade do presidente ao seu enorme carisma. Ora, basta lembrarmos do Lula sindicalista, barbuda e maltrapilho, para vermos como alguém pode ficar mais... afável. Ela tem crescido nas pesquisas. Uma recente pesquisa Data-Folha mostra que ela está quase alcançando o Serra naquelas entrevistas que testam a memória espontânea do eleitor (não é sugerido nenhum nome, apenas é perguntado, livremente, em quem a pessoa votaria). Quer dizer, uma mulher até recentemente desconhecida do grande público está sendo quase tão lembrada quanto o velhaco José Serra, político das antigas e que conta com o tal do recall (memória dos eleitores sobre ele).



Se pensarmos que ainda faltam mais de 1 ano para as eleições e que as campanhas ainda não se efetivaram, é perfeitamente plausível a idéia de a estreante Dilma derrotar o veterano Serra.