Mídia e partidarismo.

Pretendo iniciar neste blog uma discussão sobre a mídia e seu posicionamento diante do jogo político. A alcunha "Quarto Poder" é constantemente atribuída à imprensa (em todas as suas manifestações); em geral, denota sua participação na constituição de um Estado Democrático de Direito, postando-se ao lado dos outros três poderes da República. No entanto, algumas sombras são lançadas sobre essa mídia, no que se refere a sua imparcialidade ou, mais seriamente, a sua utilização como instrumento social de fiscalização dos Poderes.


No cenário brasileiro atual, o que de fato significa "Quarto Poder"? Um corpo estranho, mas claramente democrático e social, que se insere informalmente na tripartição dos poderes, ou um ente colossal que agrega forças políticas suficientes para não apenas fiscalizar as legítimas instituições públicas, mas para, sobretudo, influir, modificar, tirar proveito das relações políticas?


A mídia é imparcial? Essa seria a pergunta mais sucinta possível. Aqueles que detêm um certo nível de informações gerais e que não possuem muita ingenuidade responderiam rapidamente com um belo e sonoro “Não”. “A Globo é um veneno para o povo brasileiro”, “Ler Veja é coisa de quem tem preguiça de pensar” entre outros brados de protesto, cuspiriam os mais irritadiços. Mas nem sempre as coisas se mostram de forma tão superficial e simplória. Maniqueísmos tendem a empobrecer qualquer análise e desacreditam até mesmo os mais honrosos argumentos.


Até que ponto a mídia se coloca como representante dos interesses do povo, cobrando do poder público? Quando que as denúncias encabeçadas pelos jornais país a dentro deixam de atender a princípios éticos e se tornam meros joguetes para chantagem ou para difamação de possíveis inimigos?


Assistam ao vídeo do programa do Jô, no qual ele faz uma mesa-redonda com jornalistas. Olhemos com olhos mais aguçados. Tentemos enxergar além do que está sendo dito de forma transparente. Pensemos: o que discutem, sobre quem discutem, em quais termos discutem, quanto tempo gastam em cada tema discutido.




Depois de ter assistido ao vídeo, vale refletir: para quem esse programa é feito?


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A construção da identidade pós-moderna


A mídia e os produtos por ela veiculados não podem ser analisados na contemporaneidade como meros instrumentos de entretenimento e comunicação que alienam e massificam os indivíduos, pelo contrário, seu cunho ideológico e as mensagens que eles transmitem tonrnam-se na nossa sociedade redefinidores da identidade física e psicológica dos indivíduos.

O dicionário nos traz duas definições para o termo identidade. A primeira definição aborda um estado do que fica sempre igual, qualidade do indêntico. A segunda indica um conjunto das características próprias e exclusivas de um indivíduo, ou seja, a consciência da própria personalidade. Tomando por base o texto A Cultura da Mídia, de Douglas Kellner, podemos fazer uma análise da semelhança dos conceitos no dicionário com a exposição feita pelo professor e filósofo sobre o assunto. Alguns teóricos apresentam-nos a identidade como algo inato, da essência do ser; outros afirmam que na realidade ela é edificada de acordo com o ambiente e os outros indivíduos.

Em meio a esse debate sobre a questão da essência ou construção das características e personalidade de uma pessoa, o texto revela o papel fundamental da imagem na formação das identidades nas sociedades contemporâneas. A partir do exame minucioso de uma série de TV e de algumas campanhas publicitárias, o autor demonstra o quanto a sociedade do consumo é capaz de interferir no estabelecimento das consciências e personalidades individuais.

Resgatando ideologias sobre a televisão e o modo como seu entretenimento foi explorado nas últimas décadas, Kellner alerta para o fato de que a TV não é um simples meio de comunicação das massas que promovem a essas escapes momentâneos da realidade sofrida e rotineira. Sem dúvida ela pode ser utilizada por muitos como “puro ruído” sem aparente interferência. Entretanto, abordagens menos superficiais revelam que esse veículo tem a habilidade de moldar comportamentos, estilos e atitudes que concorrem para a criação de novas identidades. Combinando modelos e estruturas que convidam o espectador ao consumismo, à catarse e à realização de seus desejos mais íntimos, a TV propicia a este uma escolha entre ser a mesma pessoa ou tornar-se algo novo.

O estudo das campanhas publicitárias nos mostra que as imagens nas propagandas também possuem importante valor simbólico e ideológico. Utilizadas tanto para promover produtos comerciais quanto para divulgar crenças e expressões religiosas, políticas ou culturais, as propagandas tornaram-se meios poderosos de expressão do período em que se inserem e dos comportamentos que desejam influenciar. Como ocorre com o cinema e a TV, ela convida o indivíduo a integrar-se à sociedade por meio da aquisição das roupas que estão na última moda, as jóias mais raras, os cosméticos que rejuvenescem em menos tempo, o carro mais caro.

Ao contrário do que se via nas sociedades pré-modernas, onde a identidade era permeada por aquilo que a pessoa fazia, por seu caráter, suas escolhas e idéias, na era contemporânea do consumo e da informação deliberada, as novas formas de indentidade são definidas, na maioria das vezes, por aquilo que se tem e aquilo que se mostra. A competência entre aqueles que sabem distinguir entre a criação de uma identidade alienada e a edificação de uma identidade livre mas única, é testada dia-a-dia pelas máquinas do capitalismo.

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Quatro mãos

Em um mundo que vê eclodir uma bolha digital chamada blogosfera, sinto-me quase como que descobrindo o fogo. E não era para ser assim, afinal, o que se espera de um jovem é que ele esteja conectado, online. Mas a necessidade urgiu, como o leão faminto que não dá mole à sua presa: criei um blog. Ou melhor, criamos. Eu (Renato), e Lorena, minha companheira de viagem. Estudamos Jornalismo na Universidade Federal de Goiás e gostamos de tanta coisa em comum que decidimos que somos almas gêmeas. Aquelas que foram separadas no passado. Concluímos também que somos almas que de gêmeas tem apenas as idéias e o prazer mútuo de estarem juntas. Cada um com seu cônjuge (ou à procura), vamos caminhando contra uma ventania de coisas bizarras que, vez ou outra, dá lugar a um marasmo modorrento de estilhaçar a paciência do mais paciente eremita. C'est la vie, já diria um francês bem informado.

Ao longo desses anos de caminhada seguindo os passos um do outro, colecionamos algumas impressões sobre o mundo. E agora queremos escrever. Sobre isso, o mundo. Sem linha editorial. Apenas nosso ponto de vista acerca do que se sucede aqui, entre esse céu e essa terra. Nada muito romântico, ou crítico, ou profundo. Queremos mesmo é que o mundo e as coisas mostrem a nós como escrever. De início, por exemplo, num exercício de metalinguagem, vamos falar alguma coisa sobre blog e como essa ferramenta tem alcançado grandes distâncias. Este texto (próximo post) é de origem acadêmica. Foi útil para a sala de aula, será útil para este espaço. Comecemos então com uma discussão sobre a blogosfera e sua abrangência.

Sejam bem-vindos ao Dois Lados e Meio...

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A narrativa midiática em perspectiva

Nas últimas décadas do século passado, viu-se emergir um anseio acadêmico por forjar uma alcunha que fosse capaz de exprimir todos os elementos que permeavam a nova sociedade contemporânea, marcada por valores, práticas e instituições inéditas que reiteravam o individualismo e as novas relações de mercado. A modernidade de outrora havia sido superada; as novas tecnologias da informática agora tomavam o papel revolucionário das antigas fornalhas. A sociedade tornou-se eminentemente informacional e fez com que os indivíduos assumissem o poder dos veículos comunicacionais como representantes do processo comunicacional.

A notícia entrou definitivamente num processo industrial que lhe atribuiu valores de uso e de troca. A mão-de-obra exigida na composição do noticiário tornou-se cada vez mais especializada: os jornalistas não mais eram profissionais de áreas afins. Ao contrário, tornou-se necessário uma sistematização de toda a cadeia produtiva do jornal para que este fosse capaz de percorrer as mais longas distâncias, gerando e conduzindo informação. Todo esse processo sedimentou uma imponente máquina industrial que coordena todo o processo de desenvolvimento da notícia. A nova Sociedade da Informação está embebida constantemente pela necessidade de conhecer e, posteriormente, na tentativa de compreender o que a cerca.

A maior parte das transformações na sociedade deveu-se aos avanços técnico-científicos, sempre tão eficazes em interferir na percepção do homem sobre o mundo. Em função dessa capacidade da técnica em influir na relação homem-mundo, a internet causou uma verdadeira ruptura em paradigmas historicamente legitimados. A hegemonia do capital que era capaz de definir a estrutura que comportava a mídia é contestada por essa nova ferramenta, única na sua capacidade de democratizar o acesso de um número colossal de indivíduos no debate social vigente.

Neste processo evidente, o modelo da imprensa tradicional vê-se perdendo adeptos. Nascem os blogs, os jornais gratuitos e as novas mídias, instrumentos adequados às necessidades e interesses de um público que inaugura o que se pode chamar de um novo fetiche midiático: o diálogo entre o indivíduo e os meios de comunicação. Os consumidores de notícias deste universo globalizado editam e publicam os fatos e as informações ao invés de pegá-los prontos e estruturados pelos detentores do poder nos veículos comunicacionais. Na mídia clássica, comunica-se a um sujeito geralmente passivo e indistinto. Comunicar, no entanto, mais do que simplesmente informar, denota interação e participação dos interlocutores – ação concretizada pelos novos operadores midiáticos.

Diante dessa novidade que se instaura, em que se torna fundamental características como a agilidade, a competitividade, a organização e a credibilidade, a importância dessas novas ferramentas que maximizam as oportunidades de comunicação é, sobretudo, promover uma verdadeira mudança cultural que tenha por modelo a ética, o compromisso com o meio ambiente, com a qualidade de vida e com a cidadania, que garantirão o respeito aos direitos individuais e coletivos.

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