A narrativa midiática em perspectiva

Nas últimas décadas do século passado, viu-se emergir um anseio acadêmico por forjar uma alcunha que fosse capaz de exprimir todos os elementos que permeavam a nova sociedade contemporânea, marcada por valores, práticas e instituições inéditas que reiteravam o individualismo e as novas relações de mercado. A modernidade de outrora havia sido superada; as novas tecnologias da informática agora tomavam o papel revolucionário das antigas fornalhas. A sociedade tornou-se eminentemente informacional e fez com que os indivíduos assumissem o poder dos veículos comunicacionais como representantes do processo comunicacional.

A notícia entrou definitivamente num processo industrial que lhe atribuiu valores de uso e de troca. A mão-de-obra exigida na composição do noticiário tornou-se cada vez mais especializada: os jornalistas não mais eram profissionais de áreas afins. Ao contrário, tornou-se necessário uma sistematização de toda a cadeia produtiva do jornal para que este fosse capaz de percorrer as mais longas distâncias, gerando e conduzindo informação. Todo esse processo sedimentou uma imponente máquina industrial que coordena todo o processo de desenvolvimento da notícia. A nova Sociedade da Informação está embebida constantemente pela necessidade de conhecer e, posteriormente, na tentativa de compreender o que a cerca.

A maior parte das transformações na sociedade deveu-se aos avanços técnico-científicos, sempre tão eficazes em interferir na percepção do homem sobre o mundo. Em função dessa capacidade da técnica em influir na relação homem-mundo, a internet causou uma verdadeira ruptura em paradigmas historicamente legitimados. A hegemonia do capital que era capaz de definir a estrutura que comportava a mídia é contestada por essa nova ferramenta, única na sua capacidade de democratizar o acesso de um número colossal de indivíduos no debate social vigente.

Neste processo evidente, o modelo da imprensa tradicional vê-se perdendo adeptos. Nascem os blogs, os jornais gratuitos e as novas mídias, instrumentos adequados às necessidades e interesses de um público que inaugura o que se pode chamar de um novo fetiche midiático: o diálogo entre o indivíduo e os meios de comunicação. Os consumidores de notícias deste universo globalizado editam e publicam os fatos e as informações ao invés de pegá-los prontos e estruturados pelos detentores do poder nos veículos comunicacionais. Na mídia clássica, comunica-se a um sujeito geralmente passivo e indistinto. Comunicar, no entanto, mais do que simplesmente informar, denota interação e participação dos interlocutores – ação concretizada pelos novos operadores midiáticos.

Diante dessa novidade que se instaura, em que se torna fundamental características como a agilidade, a competitividade, a organização e a credibilidade, a importância dessas novas ferramentas que maximizam as oportunidades de comunicação é, sobretudo, promover uma verdadeira mudança cultural que tenha por modelo a ética, o compromisso com o meio ambiente, com a qualidade de vida e com a cidadania, que garantirão o respeito aos direitos individuais e coletivos.