A construção da identidade pós-moderna


A mídia e os produtos por ela veiculados não podem ser analisados na contemporaneidade como meros instrumentos de entretenimento e comunicação que alienam e massificam os indivíduos, pelo contrário, seu cunho ideológico e as mensagens que eles transmitem tonrnam-se na nossa sociedade redefinidores da identidade física e psicológica dos indivíduos.

O dicionário nos traz duas definições para o termo identidade. A primeira definição aborda um estado do que fica sempre igual, qualidade do indêntico. A segunda indica um conjunto das características próprias e exclusivas de um indivíduo, ou seja, a consciência da própria personalidade. Tomando por base o texto A Cultura da Mídia, de Douglas Kellner, podemos fazer uma análise da semelhança dos conceitos no dicionário com a exposição feita pelo professor e filósofo sobre o assunto. Alguns teóricos apresentam-nos a identidade como algo inato, da essência do ser; outros afirmam que na realidade ela é edificada de acordo com o ambiente e os outros indivíduos.

Em meio a esse debate sobre a questão da essência ou construção das características e personalidade de uma pessoa, o texto revela o papel fundamental da imagem na formação das identidades nas sociedades contemporâneas. A partir do exame minucioso de uma série de TV e de algumas campanhas publicitárias, o autor demonstra o quanto a sociedade do consumo é capaz de interferir no estabelecimento das consciências e personalidades individuais.

Resgatando ideologias sobre a televisão e o modo como seu entretenimento foi explorado nas últimas décadas, Kellner alerta para o fato de que a TV não é um simples meio de comunicação das massas que promovem a essas escapes momentâneos da realidade sofrida e rotineira. Sem dúvida ela pode ser utilizada por muitos como “puro ruído” sem aparente interferência. Entretanto, abordagens menos superficiais revelam que esse veículo tem a habilidade de moldar comportamentos, estilos e atitudes que concorrem para a criação de novas identidades. Combinando modelos e estruturas que convidam o espectador ao consumismo, à catarse e à realização de seus desejos mais íntimos, a TV propicia a este uma escolha entre ser a mesma pessoa ou tornar-se algo novo.

O estudo das campanhas publicitárias nos mostra que as imagens nas propagandas também possuem importante valor simbólico e ideológico. Utilizadas tanto para promover produtos comerciais quanto para divulgar crenças e expressões religiosas, políticas ou culturais, as propagandas tornaram-se meios poderosos de expressão do período em que se inserem e dos comportamentos que desejam influenciar. Como ocorre com o cinema e a TV, ela convida o indivíduo a integrar-se à sociedade por meio da aquisição das roupas que estão na última moda, as jóias mais raras, os cosméticos que rejuvenescem em menos tempo, o carro mais caro.

Ao contrário do que se via nas sociedades pré-modernas, onde a identidade era permeada por aquilo que a pessoa fazia, por seu caráter, suas escolhas e idéias, na era contemporânea do consumo e da informação deliberada, as novas formas de indentidade são definidas, na maioria das vezes, por aquilo que se tem e aquilo que se mostra. A competência entre aqueles que sabem distinguir entre a criação de uma identidade alienada e a edificação de uma identidade livre mas única, é testada dia-a-dia pelas máquinas do capitalismo.